Vídeo chocante de estudantes de medicina expondo paciente nas redes sociais gera indignação. Dra. Caroline Daitx comenta a grave falha ética e a importância do respeito e privacidade na formação médica. Entenda o caso!

A internet foi palco de um episódio estarrecedor que reacende um debate crucial sobre ética e responsabilidade na medicina: o vídeo viralizado de estudantes de medicina expondo uma paciente transplantada, acompanhado de comentários desumanos como “será que ela pensa ter 7 vidas?”. Como médica-perita, afirmo com veemência: a exposição de informações sensíveis de pacientes, mesmo sem citar nomes, (ainda mais quando dados que podem identificar um paciente são expostos) é uma linha ética que jamais pode ser cruzada. Interpretar um prontuário não é conteúdo para likes; é um ato técnico, ético e profundamente sério.
Entenda o caso:
O recente caso da paciente transplantada exposta nas redes sociais por duas estudantes de medicina, através de um vídeo que se tornou viral, levanta uma discussão delicada e urgente sobre os limites éticos da formação médica, especialmente no uso de plataformas digitais. A repercussão pública foi imediata e a família da jovem paciente, que faleceu dias após a publicação, formalizou uma denúncia ao Ministério Público.
As notícias revelam que o vídeo veiculado, mesmo sem identificação direta, continha informações suficientes para reconhecimento familiar: paciente transplantada x vezes, internada aqui no hospital tal… Os comentários proferidos, além de desrespeitosos, sugerem interpretações distorcidas sobre a condução clínica e o desfecho da paciente.
Como médica-perita, reitero que a análise de um prontuário exige rigor técnico, compreensão do contexto clínico e respeito à privacidade do paciente. Atribuir culpa ou fazer comentários levianos sobre o curso de um tratamento em ambiente público, sem conhecimento aprofundado e vínculo assistencial, é uma conduta eticamente reprovável e pode ter implicações legais sérias.

O Código de Ética do Estudante de Medicina é claro: empatia, respeito à privacidade e responsabilidade no trato com informações sensíveis são pilares da formação. O compromisso com a dignidade humana deve ser internalizado desde o início da graduação.
A utilização de redes sociais para comentar casos clínicos reais, especialmente de pacientes vulneráveis e ainda internados, representa uma grave quebra de confiança e mancha a imagem de toda a classe médica.
É fundamental reconhecer o impacto devastador dessa conduta em famílias que enfrentam a dor do luto. Humanizar a medicina exige, acima de tudo, a compreensão do peso de cada palavra, dentro e fora dos consultórios.
Conclusão:
Que este triste e revoltante episódio sirva de alerta para todos nós. Ética não é uma mera disciplina teórica na faculdade; é uma postura diária, silenciosa, respeitosa e profundamente responsável. A busca por engajamento nas redes sociais jamais pode se sobrepor ao respeito à dignidade e à privacidade de um paciente, ainda mais em um momento de fragilidade extrema. A medicina é uma arte que exige ciência, técnica, mas, fundamentalmente, humanidade. A exposição e o julgamento leviano de uma vida, como vimos neste caso, representam a antítese do que esperamos de futuros profissionais da saúde.
Dra. Caroline Daitx e equipe!
Especialista em Medicina Legal e Perícia Médica CRM/SP: 194.404 | RQE: 94.143 / 90896